quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Olhar o futuro

No passado dia 15 de Outubro, o CEO da sanofi-aventis, Gerard Le Fur, deu uma interessante entrevista ao Financial Times. Na conversa com o jornalista, o responsável máximo da multinacional farmacêutica (a primeira companhia na Europa e a terceira a nível mundial) refere que estas empresas, mais tarde ou mais cedo, terão que criar mecanismos para limitar o aumento dos preços dos medicamentos para que as vendas também subam.

Uma contradição? Nem tanto. Le Fur considera que a médio prazo o volume de vendas irá sobrepor-se ao impacto do preço. Medicamentos mais baratos vendem mais, diminuem o fosso que os separa dos genéricos e aumentam a possibilidade de serem logo comparticipados por Sistemas Nacionais de Saúde (SNS) já bastante endividados (como é o caso de Portugal).
A indústria farmacêutica necessita de trabalhar em parceria com os poderes políticos para que os utentes possam aceder aos novos tratamentos que fazem realmente a diferença. E, para tal, ambas as partes tem que ceder.

Vejamos o caso das vacinas contra o cancro do colo do útero. Pela primeira vez na história da medicina, é lançada uma vacina que a longo prazo irá erradicar um dos cancros mais mortais para as mulheres. E que faz o nosso Governo enquanto o resto do mundo preocupa-se em colocar o produto em Planos Nacionais de Vacinação e encontrar formas diferenciadas de comparticipação? Anda um ano desde a chegada da primeira vacina a solicitar mais estudos médico-científicos, arrastando uma decisão até à chegada da segunda vacina (esta semana) e assim garantir nova posição negocial, desta vez com dois laboratórios e não com apenas um (o que facilita cedências).

E porquê? Porque estamos no limite orçamental e vacinas que custam entre cerca de 433 e 500 Euros não ajudam. Mesmo que a bandeira propagandista seja bem apelativa (exemplo de parangona comunicacional – José Sócrates anuncia – Governo Português vai comparticipar a vacina para o cancro do colo do útero) o que é certo é que os SNS estão a caminho da ruptura tornando mais difícil o acesso a terapêuticas cada vez mais inovadoras. É justo? Não. Mas é o que continuaremos a ter se os posicionamentos dos todos os intervenientes nesta área não se alterar. E, pelos vistos, alguns como Gerard Le Fur, já começam a percepcionar novas linhas de actuação. Perspectivando sucessos comerciais mas também promovendo o acesso mais alargado a tratamentos que realmente melhoram a qualidade de vida.

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